Cá fora...
"Cá fora à luz sem véu do dia duro
Sem os espelhos vi que estava nua
E ao descampado se chamava tempo
Por isso com teus gestos me vestiste
E aprendi a viver em pleno vento"
Sophia de Mello Breyner Andresen
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"Cá fora à luz sem véu do dia duro
Sem os espelhos vi que estava nua
E ao descampado se chamava tempo
Por isso com teus gestos me vestiste
E aprendi a viver em pleno vento"
Sophia de Mello Breyner Andresen
"As pessoas - tu sabes - as pessoas são feitas
de vento
e deixam-se arrastar pela mais bela
respiração das sombras,
pela morte que repete os mesmos gestos
quando o crepúsculo fica a sós connosco
e a noite se redime com uma estrela
a prometer salvar-nos."
Fernando Pinto do Amaral
Instante
Não é dia nem é noite
Hora amena quase despida
Genuinidade que atrai o olhar
Que se alongue o dia
Sem distanciar a noite
Não quebre o silêncio
Enquanto a hora durar
Permaneça amena
Doce e apaziguadora
Sem o bulício da cidade
Das horas fugidas
Não quero ouvir apitos
Carros a passar
Gente a estrebuchar
O momento é meu
Quero-o suster, quero-o guardar
Soprai minha fronte
Beijai o meu rosto
Soprai meu cansaço
Renovai meu esforço
Ó ventos que vindes do mar
Fazei-me um sinal
Mandai uma estrela piscar
Mostrai-me o caminho
Para daqui partir
Ou aqui voltar?!
Dizem que és mentiroso
Nunca te apanhei a mentir
Verdade que não pergunto
Aquilo que não quero ouvir
Se tu és o malmequer
E teimas em não-me-querer
O problema é só teu
Continuo a te-querer-bem
Tens fama de invejoso
Inveja de quê afinal?
Ninguém te prometeu o sol
Dá-se ele por te-bem-querer
Malmequer
Bem-me-quer
Não procuro uma razão
Se és tu a me-querer-bem
Ou eu a te-bem-querer
Quem daqui partiu
rubra flor?
Quem te arremessou
pobre enjeitada?
Coração torturado?
De que espinhos?
Nunca os teus, de rosa
simples, encarnada.
Danaram tua excelência,
sem pudor.
De ténue perfume.
Doce suavidade.
Ao chão te aconchegaste,
onde serás espezinhada.
Por pés, e não punhos
das mãos que te cuidaram.
Ignorando tuas pétalas,
em súplica carmim.
Rosa desfalecida, rosa desprezada.
Rosa de amor; paixão; desilusão; despedida.
Não poucas vezes, ó bela rosa: foste enganada.