Sabor a maresia
Rangendo ameaçador debate-se o bravo mar em ira contra quem, ou o que, se lhe atravessa ou vai desafiando.
Assim, pudesse eu. Assim, pudéssemos nós. Descarregar a indignação, a frustração e a mágoa, contra o que, ou quem, nos desafia a paciência...
Criaríamos, tal qual o mar, a nossa maré de revolta libertando o espírito com respingos e ressaltos de espuma, até se aproximar de novo a hora da acalmia na maré vaza.
Rodopio no alto da falésia em pensamentos loucos. Olhar de cavalo desembestado. Ai, como invejo essa liberdade e as regras que impões ao que te rodeia e mudas em teu proveito. Ser dura rocha ou macia areia? Pouco importa. O mundo é teu. Tudo, tomas. Tudo te pertence.
E eu mar? Quem sou, que não me reconheço? Será perturbação pela tua infindável energia, que me faz sonhar que, um dia, me deixarás abraçar-te amansando esse desassossego das tuas revoltas águas em meu regaço?
Olhando-te assim, fixamente, lembrei, não passo de uma pequena intromissão. Sou mera e insignificante prosa ou filosofia. Se eu te vi e me afeiçoei, nada me impedirá de te querer, ainda que tu, não me queiras de igual forma. E mesmo que, nunca te chegue a abraçar, também tu, nunca me impedirás de o deixar escrito.
Afinal: Se tu és livre. Eu também sou. Sabes a maresia.