Ilustrando palavras
Nomearás
a abelha. Do mel
só conheces
o perfume, a pálida
rosa dos favos
em botão. O gesto
suspenso à espera
da mão esquiva
que o sustente.
Um mar azul
pintou de branco
o vôo das gaivotas
No inverno, a árvore
pede à neve :
- Agasalha-me!
Nem sempre a neve
cai do céu : às vezes,
explode numa flor.
No bico do melro
a natureza celebra
o triunfo do verão.
O verão deixa,
como herança, ao outono
um leque de folhas secas.
Castanha é a cor
do sorriso
do ouriço.
Pelos corredores
do outono passam
as folhas, nuas.
O mocho traz nos olhos,
escondido, um sol. Com ele,
incendeia a noite.
A andorinha faz
a sua casa
no vento.
O papagaio sabe
que o silêncio deixa
um nó na garganta.
No vôo raso
da calhandra mede
a sua altura o sol.
Do sangue e dos músculos
da árvore faz
o pica-pau um templo.
O rouxinol não sabe
que o canto
é verde.
Um pássaro
no ninho : uma gaiola
perfeita.
Com a lâmpada das suas
asas acesas, a libélula
ignora a noite.
Despida, à tona
da água, a rã
vê-se ao espelho.
Nas asas do grilo
improvisa o vento
as suas árias e sonatas.
Quando uma abelha
se enamora,
nasce uma flor.
Efémero
é o relâmpago, mas faz
da noite uma aurora.
No pico mais alto
da montanha a neve
é azul.
Com as flores do Salgueiro - Albano Martins
Ilustração - flordeliz(dida)