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"Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.
Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma
Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.
Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é."
(Poemas Inconjuntos, heterónimo de Fernando Pessoa) - Alberto Caeiro
Um frio de leve vem pra ficar.
A brisa suave faz a árvore balançar.
O vento sopra assobiando.
O céu escuro vai ficando.
As nuvens passam de mansinho.
A chuva chega devagarinho.
As pessoas correm abrindo guarda-chuvas.
Vi um homem de casaco e uma mulher de luvas.
É esse o inverno sorrateiro.
Vem chegando e nem avisa primeiro."
Clarice Pacheco
"Achamos que as nuvens são a poesia da Natureza, e o mais igualitário dos espetáculos por ela proporcionados, já que todos podem desfrutar de uma visão fantástica das nuvens. Procuramos lembrar às pessoas que as nuvens são expressões dos estados de espírito da atmosfera e podem ser lidas da mesma forma que as expressões no rosto de alguém. Acreditamos que as nuvens são para os sonhadores e que sua contemplação é benéfica para a alma. Na realidade, todos os que refletem sobre as formas que elas abrigam economizarão na conta do psicanalista. Assim, dizemos a todos os que se dispõem a escutar: ergam os olhos e maravilhem-se com a beleza efêmera, e levem sua vida com a cabeça nas nuvens."
...se neva, não sei.
Sinto frio.
Um frio intenso,
de imenso que é.
Arrepio.
Num manto que é branco,
Vazio, até.
Cadáver à deriva.
Alma destapada
Abandonada.
E o frio...
É frio de dentro,
ou de fora?
- É frio.
Dizem que neva,
eu sinto frio cá dentro - de mim.
Se neva?
Não sei!