Pintaram a cidade de vermelho - Natal
Outra hora; Outro dia; O mesmo banco; O mesmo residente; Personagens da época.
Podem pintar as roupas...
Podem colorir as ruas...
Mas não conseguem nunca: pintar o olhar solitário e as almas sombrias.
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Outra hora; Outro dia; O mesmo banco; O mesmo residente; Personagens da época.
Podem pintar as roupas...
Podem colorir as ruas...
Mas não conseguem nunca: pintar o olhar solitário e as almas sombrias.
Esta gente cujo rosto
Às vezes luminoso
E outras vezes tosco
Ora me lembra escravos
Ora me lembra reis
Faz renascer meu gosto
De luta e de combate
Contra o abutre e a cobra
O porco e o milhafre
Pois a gente que tem
O rosto desenhado
Por paciência e fome
É a gente em quem
Um país ocupado
Escreve o seu nome
E em frente desta gente
Ignorada e pisada
Como a pedra do chão
E mais do que a pedra
Humilhada e calcada
Meu canto se renova
E recomeço a busca
De um país liberto
De uma vida limpa
E de um tempo justo
Sophia de Mello Breyner Andresen
"Viajemos juntos na mesma embarcação...
Tomemos o mesmo rumo, a mesma direção...
Encontremo-nos, por coincidência, na mesma estação
e partamos a sós numa viagem sem fim..."
(...)
"Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para o pé do Fado,
Mais longe que os deuses.
Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente.
E sem desassossegos grandes."
Fernando Pessoa
Às vezes mesmo em dias de céu muito azul - a cor esmorece .
"Então pintei de azul os meus sapatos
Por não poder de azul pintar as ruas
Depois vesti meus gestos insensatos
E colori as minhas mãos e as tuas
Para extinguir de nós o azul ausente
E aprisionar o azul nas coisas gratas..."
Roubei o azul com que pintei daqui
para vós.
- Obrigada pela vossa visita, pelos comentários, pela ternura e pela força que aqui vão deixando.
A vida é feita de momentos. Muitos são os que partilho convosco. Mas muito mais é o carinho e simpatia que recolho nas vossas palavras e que me fazem voltar até aqui para que nos voltemos a cruzar.
Deixo um abraço sentido com esperança de que chegue até cada um de vós.
Dida/flor/flordeliz
Eu=Mulher
As pessoas sensíveis não são capazes
De matar galinhas
Porém são capazes
De comer galinhas
O dinheiro cheira a pobre e cheira
À roupa do seu corpo
Aquela roupa
Que depois da chuva secou sobre o corpo
Porque não tinham outra
O dinheiro cheira a pobre e cheira
A roupa
Que depois do suor não foi lavada
Porque não tinham outra
"Ganharás o pão com o suor do teu rosto"
Assim nos foi imposto
E não:
"Com o suor dos outros ganharás o pão."
Ó vendilhões do templo
Ó constructores
Das grandes estátuas balofas e pesadas
Ó cheios de devoção e de proveito
Perdoai-lhes Senhor
Porque eles sabem o que fazem.
Sophia de Mello Breyner Andresen