"Quem Me Mandou a Mim Querer Perceber?"
Como quem num
dia de Verão abre a porta de casa
E espreita para
o calor dos campos com a cara toda,
Às vezes, de
repente, bate-me a Natureza de chapa
Na cara dos
meus sentidos,
E eu fico
confuso, perturbado, querendo perceber
Não sei bem
como nem o quê...
Mas quem me
mandou a mim querer perceber?
Quem me disse
que havia que perceber?
Quando o Verão
me passa pela cara
A mão leve e
quente da sua brisa,
Só tenho que
sentir agrado porque é brisa
Ou que sentir
desagrado porque é quente,
E de qualquer
maneira que eu o sinta,
Assim, porque
assim o sinto, é que é meu dever senti-lo...
Alberto Caeiro,
in "O Guardador de Rebanhos - Poema XXII"
Heterónimo de
Fernando Pessoa